Maria Lopes

Maria Lopes

sábado, janeiro 09, 2010

Prece da Gratidão

Prece da Gratidão
Senhor, desejo dizer-Te da minha alegria e dar-Te o meu louvor

Quero dizer-Te que amo a vida, que para mim é bela e é consentida

Muito obrigado, Senhor, por tudo o que me deste, por tudo que me dás

Obrigado pelo ar, pelo pão, pela paz



Obrigado pela beleza que meus olhos vêem no altar da natureza

Olhos que fitam o céu, a terra e o mar

Que acompanham a ave ligeira que voa falheira pelo céu de anil

E se detém na terra verde, salpicada de flores em tonalidades mil

Muito obrigado, Senhor, porque posso ver o meu amor

Mas diante da minha visão eu detecto os cegos

Que se atormentam na escuridão, que se debatem na solidão, que sofrem na multidão

Por eles eu oro e te imploro comiseração

Porque eu sei que depois desta vida, na outra lida

Eles também enxergarão



Muito obrigado pelos ouvidos meus, que me foram dados por Deus

Ouvidos que ouvem o murmurar da chuva no telheiro

A melodia do vento nos ramos do salgueiro

Ouvidos que ouvem a música do povo que desce do morro na praça a cantar

E a melodia dos imortais, que a gente ouve uma vez e não esquece nunca mais

Diante da minha audição, pelos surdos eu formulo uma oração

Porque eu sei que depois desta dor, no Teu Reino de Amor

Eles também escutarão



Muito obrigado pela minha voz, mas pela sua voz

Pela voz que ama, que canta, que legisla, que alfabetiza, que trauteia uma canção

Pela voz que o Teu nome murmura com dúlcida emoção

Diante da minha melodia, deixa-me rogar pelos que sofrem de afazia

Eles não cantam de noite, eles não falam de dia

Oro por eles porque eu sei que depois desta prova, na Vida Nova

Eles também cantarão



Muito obrigado, Senhor, pelas minhas mãos

Mãos que aram, mão que semeiam, mãos que agasalham

Mãos de ternura, que libertam da amargura

Mãos que apertam mãos, mãos dos adeuses

Mãos de sinfonias, de psicografias

Mãos de cirurgias, mãos de poesias

Mãos que atendem a velhice, a dor, o desamor

Mãos que no seio embalam o corpo de um filho alheio, sem receio



E pelos pés que me levam a andar, sem reclamar

Muito obrigado, Senhor, porque eu posso andar

Diante do meu corpo perfeito, eu Te quero louvar

Porque eu vejo na Terra aleijados, amputados

Marcados, paralisados, que não se podem movimentar

Eu oro por eles porque eu sei

Que depois desta expiação, na outra reencarnação

Eles também caminharão



Muito obrigado, por fim, pelo meu lar

É tão maravilhoso ter um lar!

Não importante se este lar é uma mansão ou é uma tapera

Um bangalô, uma casa do caminho, seja lá o que for

Mas que dentro dele exista a figura do amor

Amor de mãe ou de pai

De mulher ou de marido

De filho ou de irmão

A companhia de alguém que nos dê a mão

Pelo menos a presença de um cão

Porque não pode haver nada pior do que a solidão



Mas se eu a ninguém tiver para me amar

Nem um teto para me agasalhar

Nem uma cama para repousar

Nem um lugar para me amparar

Nem assim reclamarei

Pelo contrário, direi: obrigado, Senhor, porque eu nasci

Porque um filho adotei por amor a Ti

Porque ainda tenho alegria de viver



Obrigado, Senhor!

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