Maria Lopes e Temas Transversais
A era do "óleo fácil" acabou
Em conferência no Rio, Morten Wiencke, do Programa de Colaboração em Tecnologias de Petróleo e Gás da IEA, afirma que a extração se tornará muito mais desafiadora entre 2020 e 2040
A
industria do petróleo vive um momento importante de transição. Se, há 25 anos, a maioria da produção (cerca de 75%) vinha de campos considerados “fáceis”, localizados em terra firme, daqui a 25 anos, o cenário será bem diferente. A estimativa é que, em 2040, cerca de um quarto do petróleo virá de fontes de fácil acesso, enquanto quase metade virá de locais onde o processo de extração é bem exigente (como na plataforma continental) e o restante, de fontes classificadas como desafiadoras (como o Ártico e as águas profundas).
A previsão consta do estudo “The Value of Closing Current Technology Gaps” (O ganho em superar atuais lacunas tecnológicas, em tradução livre), apresentado na última semana durante a Conferência sobre Tecnologia de Águas Profundas, no Rio. O trabalho também indica que os altos custos para explorar zonas marítimas, aliado ao baixo preço do petróleo, estão levando o setor a uma situação insustentável. Como saída, indica tecnologias que exercerão um papel-chave para viabilizar (ou baratear) a exploração de novos campos no futuro.
“O óleo fácil acabou”, disse Morten Wiencke, que apresentou a pesquisa a uma audiência formada por representantes de empresas como Petrobras, Shell, Statoil e GE, além de órgãos como o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis). Wiencke é membro do Programa de Colaboração em Tecnologias de Petróleo e Gás, da IEA (Agência Internacional de Energia), que organizou a conferência em parceria com a Finep (Financiadora de Estudos e Projetos).
Confira três tecnologias que se tornarão cruciais nessa nova etapa, segundo o estudo.
Confira três tecnologias que se tornarão cruciais nessa nova etapa, segundo o estudo.
PERFURAÇÃO AUTOMATIZADA
Os maiores gastos na extração de petróleo (seja em terra, seja no mar) se referem à perfuração e construção dos poços. A automatização desses processos (substituindo mão de obra humana por robôs, por exemplo) traria mudanças significativas, tais como: mais rapidez no trabalho de perfuração, melhor desempenho nos indicadores de HSE (saúde, segurança e meio ambiente) e a possibilidade de usar equipes menores, o que reduziria os gastos com seguro, transporte e acomodação dos funcionários.
Os maiores gastos na extração de petróleo (seja em terra, seja no mar) se referem à perfuração e construção dos poços. A automatização desses processos (substituindo mão de obra humana por robôs, por exemplo) traria mudanças significativas, tais como: mais rapidez no trabalho de perfuração, melhor desempenho nos indicadores de HSE (saúde, segurança e meio ambiente) e a possibilidade de usar equipes menores, o que reduziria os gastos com seguro, transporte e acomodação dos funcionários.
Se a perfuração fosse totalmente automatizada, ela se tornaria 30% mais barata, segundo o estudo. E seria possível reduzir o tempo de paralizações desnecessárias em 50%. Mas isso só será possível mediante o uso de sistemas que sejam capazes de ler e analisar dados em tempo real para controlar adequadamente todo o processo.
TUBOS MAIS LEVES
Os tubos que conectam os poços de petróleo, no fundo do mar, às plataformas ou navios são chamados de risers e representam um fator fundamental da exploração offshore. De modo geral, eles são feitos de aço, mas esse material não é indicado para águas profundas, já que nesse contexto seu peso sobrecarrega a plataforma e encarece todo o sistema. De acordo com o estudo, o uso de risers feitos de um material mais leve (compósito) é um bom caminho para viabilizar a extração de petróleo em locais onde a profundidade é superior a 3.000 metros. “Esta profundidade é, atualmente, nosso limite tecnológico”, disse Wiencke.
Os tubos que conectam os poços de petróleo, no fundo do mar, às plataformas ou navios são chamados de risers e representam um fator fundamental da exploração offshore. De modo geral, eles são feitos de aço, mas esse material não é indicado para águas profundas, já que nesse contexto seu peso sobrecarrega a plataforma e encarece todo o sistema. De acordo com o estudo, o uso de risers feitos de um material mais leve (compósito) é um bom caminho para viabilizar a extração de petróleo em locais onde a profundidade é superior a 3.000 metros. “Esta profundidade é, atualmente, nosso limite tecnológico”, disse Wiencke.
Ainda segundo o trabalho, estima-se que exista uma quantidade de petróleo equivalente a 45 bilhões de barris 3.000m abaixo do nível do mar. Destes, cerca de 80% estão em áreas a mais de 200 quilômetros de distância da costa. O riser compósito é uma das poucas tecnologias que permitem trazer esse volume para a superfície.
FÁBRICA SUBMARINA
O estudo também destaca a importância da fábrica submarina – o conceito implica levar equipamentos para o fundo do mar para lá mesmo separar a água do óleo, enviado apenas este para a superfície. Hoje, petróleo e água são levados até a plataforma, para finalmente serem separados. E só então a água é devolvida ao mar.
O estudo também destaca a importância da fábrica submarina – o conceito implica levar equipamentos para o fundo do mar para lá mesmo separar a água do óleo, enviado apenas este para a superfície. Hoje, petróleo e água são levados até a plataforma, para finalmente serem separados. E só então a água é devolvida ao mar.
A fábrica submarina possibilitaria a obtenção de mais de 100 bilhões de barris de petróleo, dos quais 45 bilhões seriam provenientes de águas ultraprofundas (mais de 3.000m de profundidade), como citado no tópico acima. O problema é que transferir funções de processamento do petróleo para o assoalho oceânico é uma tarefa bem complexa, já que lá os equipamentos seriam submetidos a condições ainda mais adversas (imagine a pressão exercida pela água).
Para dar conta destes desafios, é necessário desenvolver um ambiente mais colaborativo, disse Wiencke. “As operadoras investem US$ 10 bilhões por ano na área de pesquisa e desenvolvimento. Mas nós recebemos aquilo pelo qual pagamos? A resposta é não, porque nós não cooperamos o suficiente.”
https://revistagalileu.globo.com/Caminhos-para-o-futuro/Desenvolvimento/noticia/2016/03/era-do-oleo-facil-acabou.html
https://revistagalileu.globo.com/Caminhos-para-o-futuro/Desenvolvimento/noticia/2016/03/era-do-oleo-facil-acabou.html
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