Maria Lopes

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sexta-feira, junho 19, 2015

A ave mais antiga do Brasil

A ave mais antiga do Brasil

Cientistas brasileiros e argentinos encontraram na Bacia do Araripe, no Ceará, o fóssil da ave mais antiga até hoje já registrada na América do Sul. Com 14 centímetros de comprimento, o novo espécime pertence ao grupo dos Enantiornithes.
Por: Valentina Leite
Publicado em 03/06/2015 | Atualizado em 12/06/2015
A ave mais antiga do Brasil
A pequena ave pré-históricaainda sem nome científico, é uma representantedo extinto grupo dos Enantiornithes. O fóssil foi encontrado na Bacia do Araripe, no Ceará, e é o mais antigo registro de ave na América do Sul. (ilustração: Deverson Pepi)
Mesmo pequeno, um fóssil recém-descoberto no Ceará trouxe grandes novidades para apaleontologia brasileira. Encontrado em um estado raro de conservação excepcional, o exemplar mais antigo de uma ave brasileira foi escavado entre as rochas calcárias daBacia do Araripe. A espécie, nova para a ciência, foi descrita na revista Nature Communications em uma colaboração de pesquisadores do Brasil e da Argentina.
Representante do grupo dos Enantiornithes – aves pré-históricas que diferem daatuais especialmente pelos ossos do peito –, o animal pré-histórico traz novas pistas para o estudo da evolução daaves na América do Sul, já que foi conservada grande parte de sua plumagem original. Além disso, aumenta significativamente a área do planeta que sabemos ter sido ocupada por aves durante a era Mesozoica (entre 251 e 65,5 milhões de anos atrás), mais especificamente no período Cretáceo, há 115 milhões de anos.
Até hoje, todos os fósseis de espécies plumadas (que possuem penas) que haviam sidoencontrados estavam localizados em rochas na China”, explica o paleontólogo FernandoNovas, do Museo Argentino de Ciências Naturales, um doautores do estudo. “Pelaprimeira vez descobrimos uma no Brasil, o que amplia a área de alcance desses seres”.
Com duaasas proeminentes, olhos grandes, plumagem espessa e apenas 14 centímetros de comprimento – sendo oito apenas de cauda –, a espécie recém-descritaera menor do que um beija-flor e provavelmente alimentava-se de insetos que viviam naregião onde foi encontradoAnálises ósseas indicam que o fóssil pertence a um exemplar jovem.
Fóssil Enantiornithes
Bem preservado, o fóssil mantém penas que carregam indícios de seu pigmento original. (foto: Ismar Carvalho)
As penas, longas, têm um aspecto interessante: grânulos que se distribuem de maneiraregulaao longo dela”, observa o geólogo Ismar Carvalho, da Universidade FederadoRio de Janeiro, que coordenou o estudo. Essa característica pode ser um indício dos pigmentos originais que davam cor à plumagem.
Além de terem sido muito bem preservadas nas rochas de calcário, as penas destaEnantiornithes deixaram sua impressão em um formato em três dimensões, raro nos fósseis encontradoaté hoje. “Isso se deve aos mais diversos fatores, como baixaquantidade de oxigênio e águas cristalinas da bacia na época”, revela Carvalho.
O fóssil foi localizado em 2011, em pedreiras existentes na região do Crato, no município de Nova Olinda, que faz parte da Bacia Sedimentado Araripe. “Nessa região têm sidodescobertos excelentes registros”, pontua o cientista. “Isso ocorre por ser uma área de pedreiras, com sucessões de calcários laminados, que conservam esses seres durante milhões de anos”.
Pedreira na Bacia do Araripe
A ave foi encontrada em rochas de 115 milhões de anos, em pedreiras existentes na região do Crato, município de Nova Olinda. (foto: Ismar Carvalho)
Ele explica que essas rochas calcárias foram formadaa partir de uma precipitação química de carbonato de cálcio, num ambiente saturado em sais e que possibilitava aformação de uma lama muito fina, composta por calcita – um mineral comum de carbonato. “Naquela época, com clima quente e seco, o carbonato de cálcio se precipitava com facilidade, envolvendo os organismos e, posteriormente, transformando-se em rochas. Essa substância foi responsável por proteger grande parte dos registros fósseis encontradoatualmente na região”, diz. Hoje, essas rochas são amplamente usadas em construção civil, para pavimentação de ruas e residências.
Para Carvalho, a grande importância da descoberta reside no fato de ela enriquecer o entendimento da origem daaves Enantiornithes e sua distribuição paleobiogeográfica. “Além disso, também contribui para o estudo de aves do Brasil, da América do Sul e de Gondwana – supercontinente que unia América do Sul, ÁfricaAntártica e outras regiõesdo planeta”. Estamos diante, portanto, de uma pequena descoberta que pode fazer grande diferença! “Esse achado é uma joia da paleontologia brasileira e dificilmente há registros de tão boa qualidade como ele”.
Valentina Leite
Instituto Ciência Hoje/ RJ

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